“Revolta” é o sentimento do esposo de Kátia Rodrigues, mulher de 49 anos que foi atacada por uma cadela da raça pitbull. Há cinco noites que eles não dormem bem, após o ocorrido na última sexta (16) em Petrolina, no Sertão Pernambucano.
Como de costume, o casal caminhava pela orla da cidade com sua cadelinha Bela, quando foram surpreendidos pelo outro animal que, mesmo acompanhado pelos donos, estava solto, sem nenhum apetrecho de proteção.
A primeira vítima da pitbull foi a cadelinha. “Ele chegou já avançando no pescoço dela. Aí nós tentamos chutes, pontapés e ela não soltava de jeito nenhum”, conta o empresário Etelvane Barbosa. “Eu peguei uma madeira e comecei a bater na cachorra. Ela não soltava de jeito nenhum. Eu vi a boca dela aberta e coloquei a madeira dentro, foi quando consegui que soltasse”, relata.
A dona do animal até conseguiu segurá-la por um momento, mas não soube colocar o estrangulador. Quando Kátia pegou a cadelinha no colo, foi atacada. A pitbull mordeu o braço e a cabeça da mulher, arrancando parte do couro cabeludo e deixando algumas têmporas expostas.
Quem teve que colocar o estrangulador foi o próprio Etelvane. A população foi quem ajudou as vítimas, um motorista prestou socorro para levar ao hospital, onde passou por uma cirurgia com enxerto de pele e uma plástica reparadora, e outra pessoa foi para uma clínica veterinária com a cadelinha.
Câmeras de segurança mostram que mãe e filho passeavam com a pitbull sem coleira pela orla da cidade. Os donos do animal só entraram em contato com a família no domingo (18), após a repercussão do caso na internet. O telefone que tinham informado no dia do ataque não recebia ligações.
Mãe, avó e empresária, o marido diz que Kátia é uma mulher muito ativa, trabalha na empresa da família e em casa, mas está muito abatida e nervosa. “Qualquer coisinha tem um susto. Não estamos bem. (…) Minha esposa é uma mulher bonita, uma mulher vaidosa. É triste se ver na situação que se encontra hoje, que não sabemos qual a sequela que pode vim”, conta com voz embargada.
Agora, ela se recupera em casa e aguarda a retirada dos pontos, o que deve acontecer amanhã (22), para poder fazer o exame de corpo de delito.
A reportagem tentou contato com a dona do pitbull por telefone, mas não foram atendidas as ligações e as mensagens no whatsapp foram ignoradas. A Polícia Civil de Pernambuco informou em nota que registrou a ocorrência e que as “investigações foram iniciadas e seguem até completa elucidação do fato”.
Já a Polícia Militar de Pernambuco esclareceu em sua nota que o 5º BPM, responsável pela segurança em Petrolina, não teve registro da ocorrência citada e que “o Batalhão ratifica a importância de as pessoas, que de alguma forma questionem ou cobrem o cumprimento das leis, que acionem a PMPE através de uma simples ligação para o 190, o contato mais rápido para o combate a qualquer tipo de crime, no momento da ocorrência. Sobre casos específicos envolvendo animais, sugerimos entrar em contato com os órgãos municipais responsáveis por esse controle, a quem cabe a fiscalização”.
Leis obrigam o uso da focinheira na cidade
“Eu não vou deixar impune”, afirma o empresário, explicando que esse não é o primeiro caso de ataque de cachorros pela região.
“Eu quero justiça não por ser justiceiro, mas porque do jeito que aconteceu com a gente, poderia ter acontecido com outro. (…) Se a gente deixar pra lá, vai ficar na mesmice e acontecer novamente”. O empresário prestou queixa na Delegacia da Polícia Civil de Petrolina, na última segunda (19), e advogados cuidam do caso.
Duas leis municipais de Petrolina apontam a exigência de uso de focinheira para esse tipo de cachorro. A mais recente, Lei Complementar Municipal Nº 016 de 2013, afirma que “os cães de raça de guarda ou ferozes, deverão estar usando focinheira” nos locais públicos.
Uma outra de 2003, Lei Municipal Nº 1247/03, estabelece as normas para circulação de animais em vias públicas e já previa a obrigatoriedade do uso da focinheira, “inclusive estando acorrentado (…) para prevenir possíveis ataques aos transeuntes”.
Em nota, a Prefeitura de Petrolina lamentou o ocorrido já que o “animal que possuía um tutor foi solto de forma irresponsável e atacou uma mulher” e informou que “não tem responsabilidade sobre os animais que possuem donos”.
O município realiza a captura e cuidado daqueles que estão com alguma doença zoonótica e vivem na rua, oferecendo algum tipo de risco à população”. Ressaltam ainda que denúncias podem ser feitas as forças policiais em casos de animais de grande porte sem os equipamentos de segurança e que “após isso, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) poderá ser encaminhado para recolher esse animal”.
O que fazer ao ser atacado por um cão?
Se essa fatalidade acontecer com você ou alguém ao seu lado, a indicação é proteger o pescoço e a cabeça com o uso dos braços, é o que indica o médico veterinário Felipe Sento Sé. “Na hora do ataque de um cão raivoso, a recomendação não é chutar e nem agredir o animal, pois assim ele só vai aumentar a raiva. A recomendação é jogar água para tentar amenizar a raiva do cachorro”, completa.
Segundo o veterinário, ao contrário do que se propaga na internet, a culpa não é da raça do animal, mas da criação dele. Tanto a raça pitbull, como outras de grande porte como rottweiler e doberman ou pastor alemão, são dóceis e socializáveis. “Se criados de forma irresponsável, como a gente vem acompanhando rotineiramente, com o uso da força e da valentia, infelizmente essas raças que tem mais potência na mandíbula são as que mais estão presentes nesses históricos (de ataques)”, afirma.
Cães de raça grande e musculosas não são recomendados para pessoas sem força, já que dificilmente vão conseguir domar o animal em uma situação de estresse. “No momento do estresse, em que o animal acaba vendo outro, como um gato ou até uma pessoa, e acaba estranhando, ele vai puxar com muita força e quem não tem força acaba não podendo controlar a fúria do animal”, pontua.