por : Jackson Santos DRT 9109/BA
Comando Notícias
O racismo no futebol é uma realidade triste e persistente. Não são raros os casos de jogadores negros sendo ofendidos em estádios, redes sociais ou mesmo dentro dos clubes. Isso acontece tanto no Brasil quanto na Europa e em outras partes do mundo. A pele escura ainda é, infelizmente, motivo de ataques e desvalorização. Portanto, sim: muitos jogadores são vítimas de racismo.
No entanto, quando se entra no campo das escolhas pessoais como relacionamentos amorosos ou padrões de consumo surgem discussões mais complexas. Alguns apontam contradições no comportamento de jogadores negros que, após alcançar fama e sucesso, escolhem parceiras loiras, brancas, modelos de revista. Há quem veja nisso um tipo de rejeição inconsciente da própria identidade racial, talvez fruto de um ideal de beleza imposto há séculos, onde o padrão europeu é mais valorizado. Outros defendem que isso é apenas uma questão de gosto pessoal e que amor e atração não seguem regras étnicas ou ideológicas.
Exemplo de alguns antigos relacionamentos de jogadores negros com mulheres brancas :
Foto :rede social
Mas é válido o questionamento: até que ponto essas preferências são realmente livres, e até que ponto são moldadas por uma sociedade que sempre mostrou que “o bonito”, “o desejável” e “o valioso” está ligado ao branco, ao europeu? A autoestima negra, construída em uma sociedade historicamente racista, muitas vezes é afetada por essa lógica, mesmo de forma inconsciente.
O mesmo vale para líderes de movimentos antirracistas que consomem produtos de luxo e frequentam ambientes elitizados. Seria isso hipocrisia ou um sinal de que o negro também pode, deve e quer ocupar espaços de poder e prestígio? Por que um negro não pode estar num restaurante caro ou usar roupas de marca sem ser acusado de “querer ser branco”?
O ponto central aqui é entender que o racismo não se limita a ofensas explícitas. Ele é estrutural. Está nos padrões estéticos, nos espaços que se considera “naturais” para brancos ou negros, nas oportunidades e expectativas que são colocadas sobre cada grupo. E justamente por isso, muitos negros que vencem na vida sentem-se obrigados, consciente ou inconscientemente, a “provar” que merecem estar nesses espaços – adotando códigos de vestimenta, comportamento e estética aceitos por uma elite majoritariamente branca.
Isso não torna essas pessoas racistas. Pode revelar contradições, sim , mas contradições humanas, comuns em qualquer grupo. O verdadeiro inimigo não são as escolhas individuais, mas o sistema que molda essas escolhas e faz com que ser negro ainda seja sinônimo de exclusão, desconfiança ou inferioridade.
Portanto, o debate não deve ser sobre “vítima ou culpado”, mas sobre como o racismo molda comportamentos inclusive daqueles que o combatem e como podemos, como sociedade, construir um novo imaginário, onde a beleza, o sucesso e o amor também possam ser reconhecidos nas múltiplas formas da negritude.
“E aí, o que você acha? Vítimas ou Contradições?”