O Primeiro caso de Covid-19 na Bahia completa 1 ano em semana de recordes e colapso

por Matheus Caldas

“Esse negócio vai acabar nunca, não, vei?”. O questionamento direcionado a absolutamente ninguém pelo vendedor de picolé no meio da rua chamou atenção de um homem aleatório que passava andando num dia de lockdown parcial em Salvador. “Ta f*da”, respondeu. Mesmo sem citar o que era exatamente o “esse negócio”, o assunto já era sabido por ambos: o papo, mesmo que breve, se referiu à pandemia. A resposta à pergunta do comerciante não poder ser respondida com precisão, dadas as imprevisibilidades da Covid-19. Contudo, o diálogo ocorreu no dia 365 após a Bahia registrar o primeiro oficial de pessoa contaminada com o novo coronavírus. Neste sábado, quando o calendário demarca o dia 6 de março de 2021, o estado completa um ano do primeiro caso oficial. 

E, 12 meses depois, a situação regrediu ao patamar mais urgente: são 12.353 mortes contabilizadas até o momento pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). No total, 706.375 pessoas já foram contaminadas pelo novo coronavírus na Bahia. Dos 22.233 casos ativos, 991 estão internados em leitos de UTI adulto exclusivos de tratamento da doença – estes números significam 87% de ocupação dos leitos, mesmo com a abertura gradativa destes espaços no estado.

O PRIMEIRO CASO
A primeira pessoa infectada pela Covid-19 no estado é de Feira de Santana. De acordo com a Sesab, trata-se de uma mulher de 34 anos que voltara de viagem da Itália, antigo epicentro da pandemia. Ela retornou da Europa no dia 25 de fevereiro, após passagens por Milão e Roma, onde aconteceu a contaminação. 

Após isto, o vírus passou a demonstrar seu potencial sua vertente disseminadora. A primeira infectada passou a Covid-19 para a sua empregada doméstica, que, por conseguinte, transmitiu a doença para a mãe. 

RECORDES 
Nos últimos dias, os números apresentados dão o tom da gravidade da pandemia na Bahia. Somente desde o último domingo (28), houve recordes na média móvel (4.421), de ocupação total de leitos (75), de internados em UTI (991), de ocupação das UTIs (87%). Na semana anterior, houve também marcas quebradas de mortes em 24h (137) e de casos diários (6.520). Houve também recorde de mortes em 24h em Salvador: 51.

 

MIMIMI? SÓ QUE NÃO…
Embora o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha sugerido ao longo da semana que falar sobre a gravidade da pandemia é mimimi, os números mostram o contrário.

Com o iminente colapso do sistema de saúde na Bahia, o governador Rui Costa (PT) endureceu as medidas e, em consonância com alguns prefeitos baianos, decretou toque de recolher em todo o estado, além do fechamento de atividades não essenciais em áreas específicas. Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (DEM) cancelou a última fase de abertura do comércio. Se em janeiro a cidade vivia a fase 3 da medida, o mês de fevereiro fez com que a prefeitura da capital virasse a chave e voltasse à “fase zero”. No momento, apenas atividades consideradas essenciais podem funcionar, à contragosto de grupos empresariais que se dirigiram por mais de uma vez à casa do sucessor de ACM Neto (DEM) que, em julho do ano passado, iniciou a primeira fase da reabertura.

Somente nesta semana, o governo estadual anunciou a abertura de leitos nos hospitais Metropolitano, Alayde Costa, na Arena Fonte Nova e no Hotel Riverside – estes dois foram reativados como hospitais de campanha por conta do momento crítico da pandemia.

Na capital, Bruno Reis determinou a abertura de mais um hospital de campanha numa quadra esportiva em Itapuã. O município também tomou para si a administração do Hospital Salvador.

Para conter a demanda crescente na capital, o gestor anunciou que quatro unidades de saúde da família (USF) seriam convertidas em unidades Covid-19 para abrigar leitos clínicos. Já algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da cidade passaram a receber leitos de terapia intensiva para suprir a demanda crescente.

LINHA DO TEMPO
Desde o primeiro caso registrado em Feira, as notificações foram se multiplicando em progressão geométrica. Em 19 de maio do ano passado, o estado ultrapassou a barreira de 10 mil casos – neste, entidades médicas editaram um documento em que não recomendam a hidroxicloroquina, medicamento exaltado por Bolsonaro, contra Covid-19 (leia mais aqui). 

Já a demarcação de 100 mil casos foi atingida em 10 de julho. Neste dia, teve início a inscrição de voluntários para a vacina da Oxford/AstraZeneca em Salvador (leia mais aqui).

Os 500 mil casos registrados foi outra marca. Isto aconteceu no dia 6 de janeiro deste ano, quando a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) protocolou, na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment contra o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, terceiro titular da pasta do governo Bolsonaro somente na pandemia – antes, ocuparam o cargo Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich (leia mais aqui).

No dia 25 de agosto de 2020, o apresentador José Luiz Datena, da Rede Bandeirantes, rebateu críticas de Bolsonaro à imprensa. O presidente, em tom agressivo, afirmou: “aquela história de atleta né, que o pessoal da imprensa vai para o deboche, mas quando pega num bundão de vocês a chance de sobreviver é bem menor. Só sabe fazer maldade, usar a caneta com maldade em grande parte”. Datena então retrucou. “Bundão é o senhor”, criticou (relembre aqui).

Em 29 de janeiro deste ano, o estado ultrapassou a marca de 10 mil mortes enquanto o secretário da Saúde da Bahia (Sesab), Fábio Vilas-Boas, criticava a “burocracia” para que as vacinas fossem aprovadas pela Agência de Vigilância Sanitária (leia mais aqui).