Feira de Santana: Preso acusado de matar colega já responde a processo por usar CRM de outro médico; veja detalhes

O que parece uma coincidência de nomes – Geraldo F. Júnior -, acabou virando motivo para uma fraude médica em diversas cidades da Bahia, envolvendo o acusado da morte do médico Andrade Lopes Santana, 32 anos, que teve o corpo encontrado no rio Jacuípe, nesta sexta-feira (28).

BNews, a partir de relatos do jornalista Rafael Velame, do Blog do Velame, no Twitter, ficou intrigado com a informação de que Geraldo Freitas de Carvalho Júnior, preso nesta sexta, e apontado como colega de profissão da vítima, sequer tinha registro no Conselho Federal de Medicina.

Já neste sábado (29), a informação se confirmou com uma rápida consulta ao site do CFM, sendo descoberto também que o suspeito, na condição de médico, já havia, inclusive, sido aprovado no Projeto Mais Médicos, do Governo Federal, que serviria para validar diplomas de Medicina expedidos no exterior.

Com o encerramento do projeto, o que aconteceu foi que Geraldo Freitas de Carvalho Júnior encontrou uma forma de atuar no Brasil, mais especificamente na Bahia: passou a utilizar o registro médico de um quase homônimo, que aqui será representado apenas por Geraldo F. Júnior, este, sim, médico, com CRM expedido em São Paulo e permissão de atuação na Bahia.

Fraude
Ocorre que, em consulta ao sistema do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), o BNews acessou com exclusividade, um processo movido perante os Juizados Especiais, no qual o verdadeiro Geraldo F. Júnior acusa o ‘outro’ de se utilizar do CRM dele para atuar em diversos hospitais baianos.

Na peça inicial, o autor contou que recebeu uma denúncia anônima, em 13 de dezembro de 2020, sobre a utilização do carimbo e CRM dele por outro médico no Hospital Edite Nogueira. Assim, Geraldo F. Júnior “buscou levantar mais informações e provas para registrar o boletim de ocorrência, o que ora conseguiu um laudo de alta realizado em seu nome com seu CRM de forma indevida e com anuência do Hospital”.

Além disso, também foi localizado um “prontuário com a alta de uma paciente expedida pelo Hospital no dia 13-12-2020 usando o nome e CRM do autor de forma indevida e criminosa”:

Em posse de todos os documentos que comprovavam a fraude, Geraldo F. Júnior, o verdadeiro dono do CRM, registrou boletim de ocorrência, no mesmo dia 13 de dezembro de 2020, contra o quase homônimo Geraldo Freitas de Carvalho Júnior.

No processo consta que o acusado da morte do médico Andrade Lopes Santana vinha “exercendo a medicina de forma indevida e sem que fosse observado o requisito mínimo, o qual seja que o referido acionado tem de fato registro no Cremeb, requisito não observado, sobretudo sem o diploma revalidado no Brasil”.

“Ilustre julgador, o autor poderia pedir danos morais e demais danos, mas só quer que o acionado deixe de usar os seus dados pessoais, visto que, nenhum valor pecuniário lhe trará a paz bem como o receio de responder algo cometido pelo acionado, como exemplo: erro médico praticado por um impostor e recair no médico de bem e conhecido no meio acadêmico, é um dano incomensurável”, diz o autor do processo.

Neste processo, em decisão expedida em 17 de dezembro de 2020, a juíza Anna Ruth Nunes Menezes Bispo concedeu liminar favorável ao autor, determinando que Geraldo Freitas de Carvalho Júnior “se abstenha de usar como se sua fosse a inscrição no CRM” referido, sob pena de multa diária no valor de R$ 500, limitado a R$ 15 mil.

Além de ser acusado de exercício irregular da profissão, Geraldo Freitas de Carvalho Júnior vai enfrentar uma investigação sobre a morte do colega Andrade Lopes Santana, de quem se dizia amigo. Ele foi preso, nesta sexta-feira, com mandado de prisão cumprido em casa, no bairro da Santa Mônica, por equipes da 1ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Feira) e da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Feira de Santana.

Por: Yasmin Garrido